
Telas: O Erro Fatal na Infância?
Por Neurologista Infantil NeuroPediatra • 21 de novembro de 2025

Por Neurologista Infantil NeuroPediatra • 21 de novembro de 2025
Este artigo é um guia aprofundado sobre a relação entre tempo de tela para crianças e o desenvolvimento infantil. Desmistificamos o “momento ideal” com base nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explicando os fatores clínicos de forma clara: como as telas afetam a dopamina (gerando vício), a melatonina (prejudicando o sono) e as conexões neurais (podendo causar atraso de fala e dificuldade de atenção). O artigo responde o que fazer se seu filho já parece “viciado” e oferece um plano de ação para pais, focando na qualidade da interação e na importância de reestabelecer o equilíbrio saudável entre o mundo digital e o real.
É uma cena universal em 2025: um restaurante, uma criança impaciente, e a solução mágica que cabe no bolso dos pais. Em segundos, o celular é entregue e o silêncio é comprado. O que parece uma vitória momentânea para pais exaustos pode ser, na verdade, uma das negociações mais arriscadas que fazemos pelo desenvolvimento infantil.
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A pergunta que todos os pais se fazem – “Qual o momento ideal para dar tela para crianças?” – é muito mais complexa do que parece. Não estamos falando apenas de entretenimento; estamos falando de arquitetura cerebral.
Este artigo não será leviano. Não vamos “inventar” regras. Vamos mergulhar fundo nos fatores clínicos, com base na ciência pediátrica, para explicar por que o tempo de tela excessivo é tão problemático. Vamos responder por que é tão difícil tirar o tablet da mão do seu filho e o que, exatamente, está acontecendo dentro da cabeça dele quando ele é exposto a esse estímulo.

Telas: O Erro Fatal na Infância?
Para um leigo, uma tela é apenas uma tela. Para um neuropediatra, é uma fonte de estímulo neurológico intenso e, muitas vezes, inadequado. O cérebro de uma criança, especialmente antes dos 5 anos, está em sua fase mais crítica de construção.
O primeiro fator clínico a entender é a dopamina. A dopamina é o neurotransmissor do “prazer” e da “recompensa”.
O Problema: O cérebro da criança se acostuma a esse nível “super-estimulado” de dopamina. O mundo real, com suas nuances, sua lentidão e suas frustrações necessárias, começa a parecer “chato” e “sem graça”. A criança perde a tolerância à frustração. É por isso que ela tem uma “crise” quando você desliga a tela: você não está apenas tirando um brinquedo, você está cortando abruptamente sua fonte de recompensa neurológica fácil.
O segundo conceito crucial é o “Serve and Return” (Servir e Responder), um termo da Universidade de Harvard para descrever a base do desenvolvimento infantil.
O Problema: A tela é um “muro”. A criança pode “servir” (tocar na tela), mas a tela não “retorna” de forma humana. Ela não lê a expressão facial, não se ajusta ao humor, não ensina reciprocidade. Em casos extremos, a superexposição a telas em bebês tem sido diretamente ligada ao atraso de fala. A criança aprende a ouvir, mas não a dialogar.
O sono é o “alimento” do cérebro infantil. É durante o sono profundo que o cérebro consolida memórias, limpa toxinas e cresce.
O resultado é um sono de péssima qualidade: a criança demora mais para adormecer, tem um sono mais agitado e acorda mais facilmente. Um cérebro cronicamente cansado é um cérebro que não aprende, fica irritado e tem zero controle de impulsos.

Smartphone para Crianças
Agora que entendemos o porquê, podemos responder ao quando. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Academia Americana de Pediatria (AAP) são muito claras e baseadas exatamente nesses fatores clínicos.
Este é o período mais crítico para a fiação cerebral. O cérebro precisa do mundo 3D: cheiros, texturas, profundidade, gravidade e, acima de tudo, rostos humanos.
O cérebro começa a entender símbolos, mas ainda é extremamente literal e suscetível ao loop da dopamina.
A criança já tem mais pensamento crítico, mas o tempo de tela ainda precisa de limites rígidos, pois o córtex pré-frontal (o “CEO” do cérebro, responsável pelo planejamento e controle) ainda está em formação.
A tela só entra depois que todo o resto estiver garantido.
A superexposição crônica não é sutil. Os pediatras veem em seus consultórios:
Essa é a pergunta mais importante. Se você reconheceu seu filho nas descrições acima, a boa notícia é que o cérebro infantil é plástico. O dano raramente é permanente se agirmos. “Tratar” é, na verdade, “manejar” e “re-treinar” o cérebro.
1. A Regra do “Tédio é Bom”: A primeira coisa a fazer é… nada. Permita que seu filho fique entediado. O tédio é o útero da criatividade. Quando o cérebro não recebe estímulos externos (telas), ele é forçado a criar seus próprios estímulos (imaginação). Não se sinta culpado por não “entreter” seu filho 24/7.
2. Zonas Livres de Tela (Para Todos): “Onde” é tão importante quanto “quanto”. Estabeleça regras rígidas e inegociáveis:
3. O Exemplo Arrasa (Seja o Modelo): Não adianta nada mandar seu filho sair da tela enquanto você mesmo está rolando o Instagram. Crianças aprendem por imitação. Você precisa demonstrar um relacionamento saudável com a tecnologia. Pratique o “Phubbing” reverso (guardar o telefone e dar atenção plena ao seu filho).
4. Substituição, Não Proibição Vazia: Não basta tirar a tela. Você precisa preencher esse vácuo com “recompensas” do mundo real. Troque 30 minutos de tablet por:
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O tempo de tela para crianças não é um vilão em si. A tecnologia é uma ferramenta poderosa. O problema surge quando usamos essa ferramenta como uma babá, uma chupeta ou uma muleta emocional.
O “momento ideal” não é uma idade mágica, mas sim um estado de equilíbrio. O momento ideal é depois que a criança explorou o mundo 3D. É depois que ela aprendeu a conversar olhando nos olhos. É depois que ela aprendeu a se frustrar e tentar de novo.
O desenvolvimento infantil não pode ser terceirizado para um algoritmo. Ele exige a nossa presença, a nossa interação e, acima de tudo, o nosso exemplo.